Comunidade do Campeche faz protesto por derrubada do Bar do Chico


Artigo da jornalista Elaine Tavares
O sábado chorou, porque até a natureza sabia que o Bar do Chico era espaço coletivo, das gentes do Campeche. Mas, mesmo com chuva o povo foi para a praia levantar as bases de mais um momento de luta comunitária. Em meio à chuva, o velho bar voltou à vida. Chegou pelas mãos do artista-poeta Paulo Renato Venuto que, durante uma semana inteira investiu na re-criação do bar.

Assim, enquanto a polícia espiava, pronta para intervir se acaso o povo quisesse levantar uma construção, os garotos chegaram com o bar pronto, em miniatura, um gesto poético que mostrou o quanto a força bruta jamais consegue deter a memória. Ali estava o bar com suas paredes pintadas, sua cerca treliçada de madeira, seu telhado, sua aura, seu jeito campechiano.

Então, em volta dele se juntaram as gentes. Cada um disse sua palavra, falou do que significava tudo aquilo, do absurdo que era a prefeitura derrubar o bar e deixar todo um mundo de hotéis, condomínios e casas de luxo em pé. Por que esta sanha contra o velho bar? Por que este ódio contra um espaço comunitário do povo guerreiro do Campeche?

A resposta todos sabem muito bem. O Campeche é comunidade de luta. É gente que se junta para decidir seu destino, é gente que briga contra as propostas de destruição ambiental, que enfrenta os poderosos, que denuncia os corruptos políticos de plantão. E, para os que mandam, essa gente merecia um cala-boca. Para isso decidiram atacar um homem velho, que desde os anos 60 tem sido uma referência no bairro, dando a ele, inclusive, filhos, que, participando ativamente da vida política da cidade, também dão trabalho ao poder.

O Campeche precisava de uma lição por conta de toda a sua luta por um plano diretor que respeitasse a vontade de seu povo. Desde a primeira vez que a prefeitura, ainda sob a gestão de Angela Amin, quis colocar no bairro mais de 400 mil pessoas, essa gente lutou.

E agora, com Dário, o povo continuou emperrando os projetos absurdos tais como o do emissário que levaria toda a merda da cidade para o mar. Então, numa manhã brumosa, vieram as máquinas e derrubaram tudo, apesar de toda a comunidade ser contra. Foi uma vingança do poder contra aqueles que barram seus interesses.

Neste sábado a comunidade se reuniu para realizar um ato político/poético. Mas isso não significa que vai ficar só nisso. A proposta é realizar novos encontros e organizar a re-construção real. Aquele é um espaço histórico, patrimônio imaterial do Campeche. O poder público sabe que esta comunidade não é de brincadeira e ninguém pisa no pé do Campeche impunemente.

Ninguém aqui vai se intimidar com as ameaças das autoridades que não tem moral alguma para fazer valer sua voz. O sábado serviu para protestar e discutir estratégias. Essa comunidade aguerrida vai saber como responder a esse ataque obtuso. É só esperar. Como diz a valente Débora Daniel. “Nós vamos brigar!” Como? Isso a cidade logo vai saber!

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