Bar do Chico no chão
Reproduzo artigo da jornalista Elaine Tavares sobre o Bar do Chico, um dos lugares mas eclético que conheci em Floripa e onde passei muitos verões. O texto fala da derrubada do bar pela Floram na sexta-feira (16), conta um pouco da história do lugar que está em disputa judicial há pelo menos uma decada e convida para um ato de reconstrução, o primeiro, que acontece no sábado, dia 24 de julho às 15h.
Derrubaram o Bar do Chico, mas ele voltará!...
Por Elaine Tavares - Jornalista
No raiar da manhã de uma sexta-feira de muito frio vieram os homens e as máquinas. Não avisaram ninguém. Em minutos, derrubaram o Bar do Chico, ponto cultural da comunidade do Campeche, que está na praia desde 1981. Lugar que é reconhecido pelas pessoas que vivem no bairro como espaço coletivo de encontro e lazer. É, porque o Campeche, até hoje, sequer um praça tem. Os espaços coletivos são os que a própria comunidade cria e o Bar do Chico era um deles.
Seu Chico é um homem simples, pescador, que nasceu e viveu toda sua vida no Campeche. Do mar, tirou o sustento dos 13 filhos que criou. Mas, quando no início dos anos 80, os barcos industriais começaram a varrer o mar, tirando o pão da boca dos pescadores artesanais, ele precisou se virar. Naqueles dias não havia quase nada no Campeche, a não ser os ranchos de pesca que acolhiam as canoas e os homens. Então, do rancho nasceu o bar e, logo em seguida, o lugar virou o coração do Campeche.
O Bar do Chico estava na beira da praia, feito de madeira e palha. Lugar simplesinho, como Chico. Não havia cercas, era território liberado para as famílias que vinham à praia, para as crianças pegarem uma sombra, para o uso gratuito do banheiro nestes tempos em que se paga para tudo. No bar do Chico as gentes celebravam o começo do ano, o meio do ano, a chegada do verão, da primavera, das tainhas, o carnaval. Era a praça coletiva.
Então, deu que o filho do Chico, Lázaro, se fez vereador. Homem sério, decidido, resoluto, do lado dos empobrecidos, dos sem casa, sem terra, sem nada. Incomodou demais. Angariou inimigos. Sem ter como atingi-lo, os políticos que se acham donos da cidade, decidiram se vingar no pai. Começou a perseguição ao Bar do Chico. A alegação é de que o mesmo estava construído nas dunas e isso não podia ser. Mas, por outro lado, por toda a parte, as dunas do Campeche iam sendo tomadas e não havia ninguém querendo destruir nada. Só o Bar do Chico.
É que o Campeche é um bairro chato demais. Aqui as pessoas participam da vida da cidade, elas fazem reuniões, brigam com a prefeitura, apresentam propostas, não aceitam a especulação, enfrentam empresários, fazem o diabo. As gentes do Campeche são incomodativas demais. Então, precisava um baque, um golpe só, para quebrar a espinha, a alma forte das famílias pescadoras.
Por quase vinte anos pairou a ameaça de derrubada. Mas, o povo nunca permitiu. Quando se anunciava a vinda, lá estava a comunidade, vigiando. Então, nesta sexta, vieram sem aviso. E quebraram a espinha do Campeche. Na manhã de sábado, na sede da Rádio Comunitária, as pessoas chegavam aos borbotões. Vinham chorando, indignadas, iradas, resolutas, aquilo não ficaria assim. Ninguém estava imóvel. O golpe não vingara. Não se quebrara a espinha, não se destruíra a alma. Pelo contrário. O que assomava era a velha e renovada força popular. “Reconstruiremos!”, diziam...
O Bar do Chico caiu. E todos sabem por quê. Por outro lado, enquanto a tal da “justiça” cristaliza uma vingança em cima de um homem velho e de uma comunidade guerreira, a Casan (estatal que cuida da água e do esgoto) premia os invasores privados das dunas com a passagem de rede de esgoto nas suas casas. O mesmo estado que derruba o espaço comunitário e livre do Campeche, é o que arranca 16 milhões de reais dos cofres públicos para construir um molhe na Praia da Armação, unicamente para salvar as propriedades privadas de famílias que invadiram a beira do mar. A justiça que derruba o coração do Campeche é a mesma que permite que o famoso jogador de tênis, Guga, desfrute privadamente das dunas e da praia do Campeche. A prefeitura derruba o Bar do Chico ao mesmo tempo em que libera a construção de casas no Morro do Lampião. Ou seja, para os ricos tudo, para as comunidades nada.
O que aconteceu nesta sexta-feira no Campeche não é nada de novo. É o estado e a justiça, instrumentos de uma classe, usando seu poder sobre quem lhes incomoda. A prefeitura, incomodada com os entraves ao plano diretor que o Campeche sempre põe, quis dar uma lição às gentes. Um cala a boca. Não vai conseguir.
O povo do Campeche quer seu espaço de volta e vai reerguê-lo com as próprias mãos, a menos que cada casa, cada hotel, cada condomínio, cada espaço privado seja também demolido. Se não for assim, o Bar do Chico vai viver outra vez. Ah, vai...
E o primeiro momento de reconstrução acontece neste sábado, dia 24, a partir das três horas da tarde. O Campeche está convidando toda a cidade para vir ajudar. Aqui não vai acontecer como no poema, no qual eles vem, pisam o nosso jardim e ninguém diz nada. Aqui, quando alguém pisa no jardim do vizinho, as gentes se levantam. Hoje pisaram no jardim do Campeche. Pois vão conhecer a força do povo!
Ato Público: Dia 24 de julho. 15h. Em frente ao bar do Chico. Traga seus instrumentos de trabalho.
Derrubaram o Bar do Chico, mas ele voltará!...
Por Elaine Tavares - Jornalista
No raiar da manhã de uma sexta-feira de muito frio vieram os homens e as máquinas. Não avisaram ninguém. Em minutos, derrubaram o Bar do Chico, ponto cultural da comunidade do Campeche, que está na praia desde 1981. Lugar que é reconhecido pelas pessoas que vivem no bairro como espaço coletivo de encontro e lazer. É, porque o Campeche, até hoje, sequer um praça tem. Os espaços coletivos são os que a própria comunidade cria e o Bar do Chico era um deles.
Seu Chico é um homem simples, pescador, que nasceu e viveu toda sua vida no Campeche. Do mar, tirou o sustento dos 13 filhos que criou. Mas, quando no início dos anos 80, os barcos industriais começaram a varrer o mar, tirando o pão da boca dos pescadores artesanais, ele precisou se virar. Naqueles dias não havia quase nada no Campeche, a não ser os ranchos de pesca que acolhiam as canoas e os homens. Então, do rancho nasceu o bar e, logo em seguida, o lugar virou o coração do Campeche.
O Bar do Chico estava na beira da praia, feito de madeira e palha. Lugar simplesinho, como Chico. Não havia cercas, era território liberado para as famílias que vinham à praia, para as crianças pegarem uma sombra, para o uso gratuito do banheiro nestes tempos em que se paga para tudo. No bar do Chico as gentes celebravam o começo do ano, o meio do ano, a chegada do verão, da primavera, das tainhas, o carnaval. Era a praça coletiva.
Então, deu que o filho do Chico, Lázaro, se fez vereador. Homem sério, decidido, resoluto, do lado dos empobrecidos, dos sem casa, sem terra, sem nada. Incomodou demais. Angariou inimigos. Sem ter como atingi-lo, os políticos que se acham donos da cidade, decidiram se vingar no pai. Começou a perseguição ao Bar do Chico. A alegação é de que o mesmo estava construído nas dunas e isso não podia ser. Mas, por outro lado, por toda a parte, as dunas do Campeche iam sendo tomadas e não havia ninguém querendo destruir nada. Só o Bar do Chico.
É que o Campeche é um bairro chato demais. Aqui as pessoas participam da vida da cidade, elas fazem reuniões, brigam com a prefeitura, apresentam propostas, não aceitam a especulação, enfrentam empresários, fazem o diabo. As gentes do Campeche são incomodativas demais. Então, precisava um baque, um golpe só, para quebrar a espinha, a alma forte das famílias pescadoras.
Por quase vinte anos pairou a ameaça de derrubada. Mas, o povo nunca permitiu. Quando se anunciava a vinda, lá estava a comunidade, vigiando. Então, nesta sexta, vieram sem aviso. E quebraram a espinha do Campeche. Na manhã de sábado, na sede da Rádio Comunitária, as pessoas chegavam aos borbotões. Vinham chorando, indignadas, iradas, resolutas, aquilo não ficaria assim. Ninguém estava imóvel. O golpe não vingara. Não se quebrara a espinha, não se destruíra a alma. Pelo contrário. O que assomava era a velha e renovada força popular. “Reconstruiremos!”, diziam...
O Bar do Chico caiu. E todos sabem por quê. Por outro lado, enquanto a tal da “justiça” cristaliza uma vingança em cima de um homem velho e de uma comunidade guerreira, a Casan (estatal que cuida da água e do esgoto) premia os invasores privados das dunas com a passagem de rede de esgoto nas suas casas. O mesmo estado que derruba o espaço comunitário e livre do Campeche, é o que arranca 16 milhões de reais dos cofres públicos para construir um molhe na Praia da Armação, unicamente para salvar as propriedades privadas de famílias que invadiram a beira do mar. A justiça que derruba o coração do Campeche é a mesma que permite que o famoso jogador de tênis, Guga, desfrute privadamente das dunas e da praia do Campeche. A prefeitura derruba o Bar do Chico ao mesmo tempo em que libera a construção de casas no Morro do Lampião. Ou seja, para os ricos tudo, para as comunidades nada.
O que aconteceu nesta sexta-feira no Campeche não é nada de novo. É o estado e a justiça, instrumentos de uma classe, usando seu poder sobre quem lhes incomoda. A prefeitura, incomodada com os entraves ao plano diretor que o Campeche sempre põe, quis dar uma lição às gentes. Um cala a boca. Não vai conseguir.
O povo do Campeche quer seu espaço de volta e vai reerguê-lo com as próprias mãos, a menos que cada casa, cada hotel, cada condomínio, cada espaço privado seja também demolido. Se não for assim, o Bar do Chico vai viver outra vez. Ah, vai...
E o primeiro momento de reconstrução acontece neste sábado, dia 24, a partir das três horas da tarde. O Campeche está convidando toda a cidade para vir ajudar. Aqui não vai acontecer como no poema, no qual eles vem, pisam o nosso jardim e ninguém diz nada. Aqui, quando alguém pisa no jardim do vizinho, as gentes se levantam. Hoje pisaram no jardim do Campeche. Pois vão conhecer a força do povo!
Ato Público: Dia 24 de julho. 15h. Em frente ao bar do Chico. Traga seus instrumentos de trabalho.
Elaine, infelizmente aqui em nossa Cidade não haverá justiça por parte da PMF/FLORAM, enquanto os fiscais de meio ambiente não forem concursados, pois hoje os 40 fiscais de meio ambiente da FLORAM foram nomeados para atuar como fiscais pelo Prefeito Dário Berger. Você acha que um fiscal nomeado vai fiscalizar o que? Somente aquilo que o Prefeito e o Gerson Basso determinam. Se notificarem uma obra irregular de um protegido do prefeito correm o risco de serem exonerados e então perdem a pomposa gratificação. Como são servidores públicos com baixa formação acadêmica, a maioria eram motoristas, calceteiros, guardador de carros, enfim, vão fazer somente o que o chefe manda a fim de garantir a gratificação a mais no salário.
ResponderExcluirO fiscal Marcelo Ferreira (um dos nomeados para fiscal pelo prefeito) que coordenou a demolição do Bar do Chico em APP, disse que só estava cumprindo uma determinação judicial. Então está certo. Decisão judicial não se discute, se cumpre. Contudo, cabe ressaltar que para se ter uma ação judicial contra uma obra irregular há que se ter primeiramente a atuação dos fiscais da FLORAM através da autuação da obra, depois a vontade política do órgão FLORAM/PMF em instaurar um processo administrativo e posterior um processo judicial para poder demolir a obra irregular. Hora, então para o Bar do Chico tudo isso foi feito. Mas pergunto: por que então que não temos mais ações judiciais determinando a demolição de tantas outras obras irregulares em APPs em nossa Cidade? É só andarmos por aí, principalmente a orla da Lagoa da Conceição, orla das inúmeras praias e verificarmos as inúmeras casas e bares igualmente em APP como o Bar do Chico. Por que os fiscais não notificaram essas outras tantas obras tbém? Simplesmente porque não há vontade política que isso aconteça e ai do fiscal que resolver desobedecer o patrão. Por isso que os fiscais deveriam ser concursados, aí teriam a segurança de notificar corretamente e não perderiam o cargo.
Um exemplo claro da conivência do Poder Público com obras irregulares na Capital e de pessoas da classe média e alta, é o exemplo da Praia da Armação. A prefeitura preferiu proteger as casas construídas de forma irregular e clandestina construindo um muro com o dinheiro público. Isso é o maior exemplo de que a prefeitura age como empresa privada em prol de seus interesses e não da sociedade. Gostaria de ver apenas um Alvará de Construção daquelas casas que estão sendo protegidas por aquela muralha da impunidade. E as casas que estão em risco tbém ao longo da Praia do Campeche? A Prefeitura vai construir um muro da impunidade tbém ou vai deixar cair porque são de pessoas mais simples e que não fazem parte do Time do Prefeito como o Seu Chico?
Infelizmente aqui em nossa Cidade não haverá justiça por parte da PMF/FLORAM, enquanto os fiscais de meio ambiente não forem concursados, pois hoje os 40 fiscais de meio ambiente da FLORAM foram nomeados para atuar como fiscais pelo Prefeito Dário Berger. Você acha que um fiscal nomeado vai fiscalizar o que? Somente aquilo que o Prefeito e o Gerson Basso determinam. Se notificarem uma obra irregular de um protegido do prefeito correm o risco de serem exonerados e então perdem a pomposa gratificação. Como são servidores públicos com baixa formação acadêmica, a maioria eram motoristas, calceteiros, guardador de carros, enfim, vão fazer somente o que o chefe manda a fim de garantir a gratificação a mais no salário.
ResponderExcluirO fiscal Marcelo Ferreira (um dos nomeados para fiscal pelo prefeito) que coordenou a demolição do Bar do Chico em APP, disse que só estava cumprindo uma determinação judicial. Então está certo. Decisão judicial não se discute, se cumpre. Contudo, cabe ressaltar que para se ter uma ação judicial contra uma obra irregular há que se ter primeiramente a atuação dos fiscais da FLORAM através da autuação da obra, depois a vontade política do órgão FLORAM/PMF em instaurar um processo administrativo e posterior um processo judicial para poder demolir a obra irregular. Hora, então para o Bar do Chico tudo isso foi feito. Mas pergunto: por que então que não temos mais ações judiciais determinando a demolição de tantas outras obras irregulares em APPs em nossa Cidade? É só andarmos por aí, principalmente a orla da Lagoa da Conceição, orla das inúmeras praias e verificarmos as inúmeras casas e bares igualmente em APP como o Bar do Chico. Por que os fiscais não notificaram essas outras tantas obras tbém? Simplesmente porque não há vontade política que isso aconteça e ai do fiscal que resolver desobedecer o patrão. Por isso que os fiscais deveriam ser concursados, aí teriam a segurança de notificar corretamente e não perderiam o cargo.
Um exemplo claro da conivência do Poder Público com obras irregulares na Capital e de pessoas da classe média e alta, é o exemplo da Praia da Armação. A prefeitura preferiu proteger as casas construídas de forma irregular e clandestina construindo um muro com o dinheiro público. Isso é o maior exemplo de que a prefeitura age como empresa privada em prol de seus interesses e não da sociedade. Gostaria de ver apenas um Alvará de Construção daquelas casas que estão sendo protegidas por aquela muralha da impunidade. E as casas que estão em risco tbém ao longo da Praia do Campeche? A Prefeitura vai construir um muro da impunidade tbém ou vai deixar cair porque são de pessoas mais simples e que não fazem parte do Time do Prefeito como o Seu Chico?