Como pagar 800 mil por um espaço que não existe

Trago para cá o artigo do Jornalista e Escritor, Rubens Lunge sobre a "doação" pelo governo do Estado, de 800 mil reais à RBS
O Governo do Estado de Santa Catarina comprou “um espaço” no show de Paul MacCartney através da SANTUR (agência catarinense de fomento do turismo) sem licitação e pelo módico preço de R$ 800 mil.

Quem vendeu o espaço foi a RBS Participações S.A. (holding proprietária de jornais, emissoras de televisão e de rádios e operações de internet, além de uma editora, uma gravadora, uma empresa de logística e uma fundação de responsabilidade social.

Suas empresas atuam nos segmentos digital e de mobile, além de uma operação para o mercado rural, uma empresa voltada ao público jovem e outra voltada à educação executiva).

Os ingressos vendidos para o show amealharam mais de R$ 10 milhões. O preço mais em conta era proibitivo a qualquer trabalhador: R$ 280,00. Mas teve quem pagou ingresso a R$ 1.200,00.

Por que a RBS venderia “um espaço” para a SANTUR em um estádio lotado de gente em Florianópolis em um show em que as pessoas somente estavam dispostas a ver o cantor e nada mais? Bom, talvez a pergunta seja outra.

O que a SANTUR devolveu ao povo catarinense ao pagar R$ 800 mil para a RBS em troca de “um espaço” que ninguém sabe onde está ou por quem foi utilizado.

Pelo povo catarinense, é que não foi. Então, por quem foi? Se pelo menos o Governo tivesse comprado R$ 800 mil em ingressos e distribuído nas bordas da cidade, teria pelo menos uma desculpa para mais esta derrapada.

Como o objeto da compra era único (um espaço no show do ex-Beatle) e impossível a concorrência, a SANTUR dispensou a licitação.

Já pensou quantas casas populares daria para fazer com R$ 800 mil? Com certeza, as casas populares ocupariam muito mais “espaço” do que aquele comprado da RBS Participações S.A. pela SANTUR.

Se vale questionar o valor dispensado pelo Governo do Estado para a RBS, uma vez que de tanto falar em crise financeira para não pagar professores e instruir outros aparelhos do Estado a conter gastos/investimentos, como por exemplo, o Judiciário, o Governo de Santa Catarina chegou a dizer (principalmente para a RBS e especialmente para o Diário Catarinense), em repetidas doses cavalares e diárias, que o governador e seu principal braço, Derly Massaud, por incrível coincidência ex-diretor da RBS, atuavam no sentido de provocar “um choque de gestão”.

Pois foi por isso que Derly saiu da Comunicação do Centro Administrativo e foi para a Casa Civil. Em seu lugar assumiu Ênio Branco, aquele citado no grande rolo do Cacheira de Goiás e daquele senador Demóstenes (incrível, também, é a rapidez com que o DC noticia os envolvimentos de Ênio Branco e na mesma edição acompanha a justificativa do citado. Ah se isso acontecesse sempre e fosse regra...).

Mas, cidadão, tem mais uma exemplar economia governamental. Juntando-se aos R$ 800 mil passados para a RBS para que a SANTUR ocupasse um espaço no show internacional vem outra conta, de R$ 1 milhão para a tradicional Festa do Pinhão, em Lages, no Planalto Catarinense. Todos sabemos que o atual governador foi prefeito ali.

Enquanto se compra “espaço” em show internacional e financiam-se festejos, os professores estão em greve e os trabalhadores do Judiciário se mobilizam contra o arrocho salarial e o sepultamento do Plano de Cargos e Salários.

E o governador chora lágrimas de crocodilo porque o País alinhou a alíquota de ICMS de produtos importados. Por isso o tal choque de gestão, que todos nós sabemos para quem vai sobrar!

Por isso o povo aguarda esclarecimentos sobre o tamanho do espaço adquirido pela SANTUR junto à RBS Participações, e que todos, a RBS, a SANTUR e o governador Raimundo Colombo se expliquem sobre este gasto, já que ninguém sabe e ninguém viu os benefícios que trouxe o dinheiro público colocados na já gorda carteira da RBS Participações S.A..

O povo precisa saber, pois a tão falada crise financeira, de que tratou muito a RBS nos últimos quinze dias de abril, que estaria caindo sobre Santa Catarina, é no fundo uma grande balela, um argumento utilizado pelo jeito de governar de quem está no Centro Administrativo, ao velho estilo remodelado com a presença midiática de pão e circo.

A “contenção de gastos” dessa turma veio na cartilha neoliberal, que não estava no programa de governo e que será agora apresentada e realizada, escorada pela agência de informações oficial e governista, a RBS, com o apoio estratégico, é claro, das centenas de emissoras de rádio e jornais impressos de Santa Catarina, onde o governo investe somas quilométricas de dinheiro público numa também chamada “descentralização da aplicação de recursos para a mídia”, aplicada pelo mesmo Derly no começo do governo Luiz Henrique da Silveira.

Se salvam poucos os que, com as mãos molhadas pelos recursos, gritarão contra as insanas arpoagens de um governo sem compromisso com a mudança e com a transformação da sociedade.

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