Jornalistas também são operários

Reproduzo texto retirado do Blog do Sakamoto com algumas reflexões sobre a profissão de jornalista. Foi publicado no dia 28 de julho durante os dias de votação para a eleição da FENAJ, mas ainda tá valendo.

Metalúrgicos, jornalistas e o poder da reivindicação

Nós, jornalistas, muitas vezes não nos reconhecemos como classe trabalhadora. Devido às peculiaridades da profissão, desenvolvemos laços com o poder e convivemos em seus espaços, seduzidos por ele ou enganados por nós mesmos. Só percebemos que essa situação não é real e que também somos operários, transformando fato em notícia quando – por exemplo – nossos serviços não são mais necessários em determinado lugar.

Às vezes, nem isso. Já vi muitos colegas se culparem por terem sido demitidos sem justa causa no melhor estilo “perdoa-me por me traíres” de Nelson Rodrigues. “Deveria ter virado mais madrugadas na redação”, “deveria ter me oferecido para trabalhar em finais de semana”, “não deveria ter corrigido o português ruim do meu chefe”…

Fazer protestos por salários? Imagina! É coisa de caixa de banco, de operário sujo de graxa ou de condutor de trem que atrasa nossa vida e gera congestionamentos na cidade. Ou de inglês, francês e italiano que têm a vida ganha e mama no Estado. Enquanto isso, quem tem consciência de que é um trabalhador e reivindica coletivamente, como muitos bancários, metalúrgicos e metroviários, tem mais chances de obter o que acha justo.

Quando vejo algumas coberturas mal feitas de protestos e greves fico pensando como um grupo que não consegue se reconhecer como classe trabalhadora pode entender as reivindicações de outros. O fato é que não somos observadores externos e nem podemos ser. Somos parte desse tecido social, desempenhamos uma função, somos parte da engrenagem, gostemos ou não.

A vida de jornalista, deixado de lado o falso glamour, não é fácil. Ainda mais com o processo de precarização da profissão que é mais intenso naqueles que são patrões de si mesmo, não por decisão própria, mas porque foram empurrados para isso.

É ano de eleições gerais, mas também de pleito entre jornalistas. Entre 27 a 29 de julho está ocorrendo a votação para decidir quem estará à frente da Federação Nacional dos Jornalistas pelos próximos três anos. Independentemente de quem ganhe, seria importante aproveitar o momento para todos aqueles que trabalham como mediadores da informação na sociedade participarem mais dos debates desafios de sua profissão. Ao menos, quebre a barreira do silêncio e abra o diálogo em seu local de trabalho. E não apenas fazer figa para que o dissídio seja maior neste ano como se ele caísse do céu.

Por fim, duvido que muitos jornalistas saibam que está rolando essa votação. E por pior que seja a divulgação do pleito, isso não é justificativa – principalmente para nós, que conseguimos obter informação quando queremos. Não é irônico que os profissional que informam sobre e analisam a democracia diariamente não exerçam sua cidadania profissional?

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